O SAGRADO E O PROFANO NA OBRA A MULHER QUE ESCREVEU A BÍBLIA DE MOACYR SCLIAR
DOI:
https://doi.org/10.56238/Palavras-chave:
A Mulher que Escreveu a Bíblia, Gênero, Moacyr Scliar, Sagrado e ProfanoResumo
O objetivo do presente estudo foi analisar como humor, corpo e materialidade operam como mecanismos críticos na reconfiguração das fronteiras entre o sagrado e o profano em uma narrativa contemporânea de reescrita bíblica. A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, com delineamento interpretativo e caráter analítico-descritivo, fundamentada em procedimentos de leitura crítica e no método teórico-dedutivo. O corpus consistiu na análise integral da obra, considerando elementos estruturais, simbólicos e discursivos que emergem da perspectiva feminina da protagonista. O procedimento metodológico envolveu a identificação dos núcleos temáticos centrais, a descrição das estratégias narrativas e humorísticas e a avaliação das tensões produzidas pela presença de objetos, corpos e elementos materiais que atravessam a narrativa. Os resultados mostraram que o humor atua como dispositivo de deslocamento simbólico capaz de expor fissuras das estruturas patriarcais que sustentam convenções religiosas, enquanto a agência feminina e a materialidade operam para desestabilizar a pretensa estabilidade das categorias de sacralidade. A análise evidenciou ainda que a narrativa reinscreve e disputa sentidos tradicionalmente associados ao sagrado, demonstrando a natureza construída e historicamente negociada dessas categorias. Conclui-se que a articulação entre humor, corpo e materialidade oferece um caminho profícuo para compreender como reescritas literárias contemporâneas podem tensionar hierarquias religiosas e ampliar o debate sobre gênero, religião e literatura no contexto brasileiro.
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